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Impeachment, Bolsonaro e outras guerras

25 abr

loucura

           Tempos quentes no Brasil. Parece que um tsunami de egos pairou em todos os setores sociais, principalmente na política. Esses fica ou não fica, quem vai e quem vem, estão tornando a vida dos brasileiros uma verdadeira balbúrdia; o que não poderia ser diferente num país que, logo de cara, foi apresentado ao suborno que os portugueses cometeram, em 22 de abril de 1.500, para ludibriarem os índios. “Um espelhinho para me dar passagem, caro selvagem!”

           No domingo, dia da votação pela aprovação ou não do impeachment  da presidente Dilma Rousseff, foi nítida a comprovação da tese de que “pau que nasce torto nunca se endireita”. Confesso que eu tinha uma noção de que nossos parlamentares eram horríveis, mas, ao acompanhar a votação, um a um, percebi que são piores do que pensei.

            Se o Congresso Nacional é uma representação do povo brasileiro, estaríamos num barco furado, à deriva, no meio de uma tempestade… sem gps. Lembrei-me daquele padre que amarrou em si os balões e não sabia usar o gps nem os aparelhos de comunicação. Talvez tenha ido parar na Lua. O padre é o povo, os balões, os parlamentares e os aparelhos, o processo de impeachment.

            O Brasil vive uma guerra ideológica entre os que não entendem nada de política e outros que defendem o afastamento por impedimento da presidente; ou os que compreendem a história do Brasil e aqueles que nunca leram um livro e defendem o Bolsonaro. Talvez, “nunca antes na história desse país”, nos deparamos com uma sociedade tão segregada ideologicamente. Uma cusparada é mais tendenciosa do que a negativa de atendimento de saúde feita por uma médica a um petista. “É petista? Então merece morrer queimado no mármore do inferno”. Zé de Abreu, cuspa aqui!

            Nunca votei no PT, mas o que o Brasil vive é uma verdadeira piada de mau gosto. A presidente, responsável por um dos piores governos da história recente, não deveria sofrer esse processo. Isso mesmo! Não deveria! Há outros meios que não ferem a lei para serem determinados, como o cancelamento da coligação pelo Tribunal Superior Eleitoral, já que Dilma e Temer receberam dinheiro como Caixa 2, assim como outros tantos candidatos.

            O sentido da palavra “Parlamento” é “lugar no qual se FALA”. E foram ditas tantas abobrinhas que nenhum agricultor, por mais talentoso que fosse, conseguiria cuidar. Bolsonaro invocou um torturador desgraçado, outro deu parabéns à filha, a outra pediu o fim da corrupção e o marido foi preso no dia seguinte…

           Paulo Maluf votou contra a corrupção!!! Isso sim é um estopim para um conflito interno de proporções freudianas. O Temer pode ser presidente sem ter recebido um voto sequer (o que corresponde à terceira vez que o PMDB chega lá dessa forma – Sarney, Itamar e, ao que tudo indica, Temer). Dos 513 deputados eleitos, apenas 36 foram por votação direta; os outros entraram pela legenda. Pode isso? Aqui pode! É lei!

             “Que país é esse?”, já perguntava o saudoso Renato Russo. Não sei responder. O Brasil, de tão peculiar, por vezes chega a dar nojo. Cazuza bem disse: “Meus inimigos estão no poder”; e percebi claramente que estão mesmo. Ali ninguém quer saber de mim, de nós; quer mesmo é saber do “pelo isso, pelo aquilo”. Em meio a tantas guerras, resta-nos pensar na canção: “Pelos campos há fome em grandes plantações, pelas ruas marchando, indecisos cordões”.  Muita gente defendendo partido A ou B, e os negrinhos estão logo ali, morrendo de fome com tanta riqueza. “Vem, vamos embora que esperar não é saber”. Eu já fui!

Mão à palmatória

5 maio

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O Brasil nunca foi um país que se dignou a investir corretamente na educação. A base social, que se faz por meio da construção dos alicerces humanos, por aqui, não tem um planejamento eficaz. Interpreto a educação brasileira como uma casa feita com areia de praia, cimento ruim e um arquiteto incapaz de traçar linhas coerentes.

            Até que o Brasil investe bastante, mas, quando o dinheiro que não foi desviado pela corrupção chega é pessimamente aplicado. Não temos gestores capazes de compreender as reais necessidades da educação brasileira, que começa no ensino de base. Preocupamo-nos muito com o superior e deixamos à míngua o começo da construção do ser humano. Também não adianta bater na tecla de que apenas o salário do professor é a causa mais contundente do problema. Se o profissional não tiver sido bem preparado para lecionar, não há salário alto que resolva.

            A situação está ainda mais caótica hoje por conta da tal crise que o governo não assume existir. Sem mais nem menos, o ministro da Educação, em entrevista coletiva, afirmou que não há mais dinheiro para o Financiamento Estudantil. Secou a fonte. Toda aquela balela de que o servidor da internet estava sobrecarregado foi uma pataquada monstruosa. Metade dos alunos deixará de receber auxílio do governo para começar ou concluir seus estudos.

            Porém, isso não é culpa apenas de um partido político. A questão é outra. No Paraná, estado governado por direitistas, a situação da educação é um símbolo da desorganização e descaso. O estado digladiando com os professores, profissionais da área que lutam todos os dias para fazer o que, muitas vezes, a família e as outras instituições sociais não fazem: alicerçar o ser humano.

            Evidentemente, não julgo a qualidade dos profissionais, mas todo um sistema falido que não tem nenhuma perspectiva de melhoria no futuro. Parece que os políticos têm nojo do ato de educar. Povo bom é povo ignorante, pois não sabe analisar o sentido, por exemplo, de escolher bem seus representantes.

            Cada bomba atirada num professor e cada cassetete que atinge um educador não representa apenas a dor física; isso comprova a visão que o sistema político tem para com a educação. Seria como aqueles profissionais antigos que penalizavam os alunos com a palmatória. Os professores, hoje, seriam as mãos que receberiam a pena.

            Toda essa situação representa o reflexo da descaracterização da civilidade. Se nem a educação, que deveria ser o estandarte da onipotência da capacidade humana é respeitada, imagine o indivíduo como ser integral! Pode ser que devamos colocar a mão à palmatória. Somos todos culpados pelo mal cheiro que exala da incompetência de quem governa. Que o sistema nos castigue!

Marina Silva: a bola da vez?

29 ago

Marina

As eleições desse ano corroborarão o fato de o Brasil votar com emoção. Até dois meses atrás, acreditávamos que, caso houvesse segundo turno, a atual presidente Dilma Rousseff (PT) enfrentaria o tucano Aécio Neves (PSDB). O trágico acidente de avião que matou o presidenciável Eduardo Campos alterou substancialmente as pesquisas de intenção de voto.

               Marina Silva (PSB), até tentou abraçar uma candidatura própria pela Rede Sustentabilidade, partido criado por ela, porém não obteve êxito, já que não conseguiu o número de assinaturas suficiente para tal feito. Assim, aceitou ser vice na chapa de Campos. Eis que o avião, por causas misteriosas, cai em Santos. De vice, Marina alçou um voo tão alto que, se as eleições fossem hoje, venceria Dilma no segundo turno.

               Dilma Rousseff tem a taxa de rejeição maior do que a dos outros candidatos. Além disso, não anda convencendo muito em seus discursos pela falta de propriedade nas falas. Aécio Neves ainda parece ser um desconhecido aos olhos do grande público. Marina, entretanto, no último pleito, obteve sólidos 20 milhões de votos.

               A história da candidata do PSB é um exemplo de vitória. Foi companheira de luta do lendário Chico Mendes. Dedicou parte de sua vida à proteção dos seringueiros no Acre. Aprendeu a ler e a escrever muito tarde. Formou-se professora de história e começou a lecionar. Foi eleita vereadora – mais votada – de Rio Branco em 1988 e não saiu mais da política.

               A viúva de Chico Mendes afirmou que Marina representa a pobreza do Brasil. Eu complemento: ela é o símbolo das camadas mais pobres que lutam por um futuro digno por meio do trabalho; não representa a elitização da política, como o PSDB, nem a estagnação, como o PT. Temos o costume de enxergar com o coração.

               Marina está mais confiante, experiente e tem a consciência de que a possível vitória nas eleições não será fácil. Há uma barreira imensa a ser transposta e que há quase duas décadas gerencia o país. Desde 1995, os brasileiros polarizam a estrutura governamental em PSDB e PT. Como a crise econômica ataca seriamente o Brasil e a atual equipe econômica não consegue controlá-la, os brasileiros talvez estejam pensando em mudar de vez.

               Ela consegue falar e ser compreendida. Com uma retórica simples, vai traçando pontos importantes na busca pelo cargo. Não se exalta e, por vezes, é motivo de chacotas. Nas redes sociais, chegou a ser rotulada – e ofendida – por não ter uma imagem que convirja com os malditos padrões.

               No entanto, uma coisa é certa: Marina é a cara do brasileiro que luta. Não deve ser fácil sair do Acre e vencer tantos desafios. Estamos carentes de um líder-nato. De uma pessoa em que possamos confiar. Pode ser que a história da ex-seringalista possa se fundir com a do Brasil. No momento, é o que há de mais provável.

               Tenho esperanças de que alguma coisa pode mudar desde que o PT saia do poder. Não temeremos o novo; as mudanças precisam ser feitas com coragem e determinação. A fé não pode acabar. Somos ricos de espírito e essa riqueza deveria ser estendida as nossas decisões. Um país tão rico quanto o nosso não pode estar perdido, jogado ao léu. Não é possível que, mesmo sendo a sétima economia do planeta, passemos por tantas dificuldades e incertezas. A Marina deve ser a bola da vez. Não nos decepcione.

Patrocinadores de corruptos

7 fev

corrupcao

O processo que julgou o crime do “mensalão” petista ainda está longe de terminar. O judicial até que pode se encerrar, mas as discussões perdurarão. O caso mais grave nisso tudo, por incrível que pareça, é a impunidade. Por mais que acreditem ser o Brasil um estandarte da mudança de conceitos, já que, pelo menos dessa vez, os bandidos foram presos, ainda assim a sociedade medíocre os alivia de forma ou outra.

            Tanto se fez que o ex-presidente do PT, José Genoíno, e o ex-tesoureiro, Delúbio Soares, conseguiram arrecadar cerca de R$ 1,7 milhão em poucos dias, por meio de um site criado pela assessoria do primeiro. Ambos pagaram suas multas e ainda doarão dinheiro aos outros criminosos, José Dirceu (que pela ambição não é presidente do Brasil hoje) e João Paulo Cunha.

            Segundo a advogada de Genoíno e coordenadora da campanha de arrecadação: “Reafirmamos nossa gratidão e respeito aos que nos apoiaram, de todas as classes sociais e regiões do país, demonstrando inconformismo diante do julgamento de exceção, midiático e arbitrário, que condenou sem provas os nossos companheiros.” Julgamento de exceção? Só se for eles terem sido os primeiros políticos presos por corrupção.

            É vergonhoso saber que alguns brasileiros, no caso, 2620 pessoas, dispuseram-se a ajudar criminosos condenados pela Justiça. Tenho pena de seus filhos, netos ou seja lá quem for que, por algum momento, se espelhe em patrocinadores de corruptos. Eu teria muita vergonha.

            Os petistas, quando presos, ainda acenaram e colocaram a mão em riste para serem aclamados como heróis. Talvez até sejam os samaritanos de que os brasileiros precisam. Povo que vota por esmola, merece as porcarias de heróis que tem.

            As aberrações jurídicas, que autorizam larápios a arrecadarem dinheiro para pagar multas aplicadas pela Justiça, são exemplos claros de como o país não funciona, que nossa máquina está emperrada ou que trabalha sem qualquer padrão de qualidade.

            Viver no Brasil é vergonhoso. Perceber que nossos partidos políticos são antros de imoralidade e não poder fazer nada é um absurdo. Saber que milhões de pessoas recebem dinheiro das tais bolsas e não oferecem nada em troca para merecê-lo me causa náuseas; que as famílias dos presos recebem quase mil reais para custeio de despesas e um assalariado ganha miséria é uma atrocidade; que políticos com cargos públicos de alto gabarito possam gastar sem limites com cartões corporativos é uma mazela.

            Resta-nos lamentar – ou talvez guardar o lamento para nós mesmos. Filho que não tem mãe não tem colo para chorar.