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Culus ebrii non habet dominum

18 jan

O que esperar de um programa como o Big Brother Brasil além de intrigas, fofocas, preguiça, atos ridículos, participantes acéfalos…? A TV Globo insiste em mesclar programas de qualidade, como o seriado Dercy – De Verdade, com os que atacam a cultura, como o BBB. Mas qual a cultura sobre a qual falamos?

            O brasileiro não se importa em ler, em lutar por educação digna e continua pagando os impostos como um rebanho bovino que vai de um lado para o outro aos mandos do peão. Vota em políticos que mal sabem ler e escrever, e, quando sabem, são modelos de corrupção para o mundo todo. Merecem ser estudados pela criatividade pela qual elaboram seus planos macabros para enriquecer à custa da desgraça alheia. Vide o caso dos desabrigados pelas enchentes em Friburgo e Teresópolis, região serrana do Rio de Janeiro. Depois de um ano, nada foi resolvido. Mas os prefeitos foram indiciados por surrupiarem mais de R$ 4 milhões.

            O povo brasileiro é acostumado a bandalheiras. Adora pão e circo. Pior que o BBB só os legislativos espalhados pelo país. Câmaras (Municipais, Estaduais e Federal) e Senado promovem o maior espetáculo grotesco que um humano pode ver. E ainda existe a reeleição.

            O BBB é fruto da ignorância que vem de cima. Se os nossos governantes não sabem gerir, o que dizer do povo no ato de votar, de escolher? Não há aquela história de que o povo brasileiro deve ter educação ruim para votar nos piores políticos? Pois bem, eis a resposta pela existência do BBB. É um programa que agrada a grande massa que não sabe pensar. É o programa que agrada o povo brasileiro, de todas as classes, em especial a B.

            Gente bonita, festas, provas de competência (não intelectual, diga-se de passagem), bundas, músculos… BBB agrada ou não?  É o programa do povo que lê de três a livros por ano, incluindo os didáticos comprados pelas escolas. Ou seja, não lê nada.

            E ainda me aparece o repórter Vinícius Valverde dizendo que os brothers e sisters, como são denominados os enclausurados, são heróis que devem percorrer um caminho árduo para ganhar R$ 1.5 milhão. De um texto de Luís Fernando Veríssimo, retiro um fragmento e compartilho a opinião deste magistral autor:

“Heróis são inúmeras pessoas, entidades sociais e beneficentes, ONGs, voluntários, igrejas e hospitais que se dedicam ao cuidado de carentes, doentes e necessitados (vamos lembrar de nossa eterna heroína Zilda Arns).

Heróis são aqueles que, apesar de ganharem um salário mínimo, pagam suas contas, restando apenas dezesseis reais para alimentação, como mostrado em outra reportagem apresentada meses atrás pela própria Rede Globo.”

Não são heroínas pessoas que fazem fofoca o dia todo à beira de uma piscina, com tudo à disposição. O caso do suposto estupro de uma das integrantes e a expulsão do acusado do feito remetem-nos a mais uma questão: qual a intenção de se exibir isso? Promover a ética é menos importante do que a audiência? Admira-me o excelente jornalista Pedro Bial, que outrora cobriu a queda do Muro de Berlim, carimbar sua carreira com esse programa.

Como diz o ditado: Culus ebrii non habet dominum.